Artigo

O verão e a (falta) logística de deslocamento nas estradas.

Silvia L. de Pinho*

Com as festas de fim de ano e o verão (ah o verão!) sempre temos muito perigo nas estradas. Assunto antigo, batido, mas que não avança no Brasil. Todo ano é a mesma festa, ou melhor, o mesmo motivo atrapalhando as festas.

Os problemas são vários, que iniciam com a condição (ou falta delas) nas estradas. E esse ano, com a crise que assola o Brasil, parece que piorou, pois muitas estradas não tiveram as manutenções e reparos necessários.

Destaca-se que muitos trechos, a maioria, são premiados por pedágios, ou seja, o contribuinte (que segundo Millôr Fernandes, de contribuinte não tem nada, pois lhe arrancam tudo à força!!), além de suportar o ônus pesadíssimo da carga tributária, ainda deve pagar duplamente para utilizar a estrada.

Sim, em alguns casos o pedágio é suave, mas há rodovias que o valor do pedágio é pesado, e praticamente inviabiliza o passeio. O Brasil tem as taxas de pedágio mais caras do mundo. Por exemplo, do trecho Oeste e Sul do Rodoanel no Estado de São Paulo, no Sistema Anchieta/ Imigrantes, onde o pedágio custa R$ 23,00. Em segundo lugar, temos as rodovias do Paraná, onde o destino para litoral é cobrado R$ 18,00 no pedágio. Sim, ida e volta é quase a passagem de ônibus!

Então, após prestar sua “contribuição” com o pedágio, além de encarar as péssimas estradas, o cidadão enfrenta o trajeto atulhado de carros, sem a mínima estrutura para suportar tamanha quantidade, e, infelizmente, o tráfego intenso não é privilégio do fim de ano, pois nessa época do ano ele só piora e muito.

Nesse passo, você e sua família encaram 8, 9, 10 horas de trânsito, para rodar percurso que normalmente faria em 3 horas. Veja, por exemplo, no trecho de volta de Santa Catarina para o Paraná no dia 03 de janeiro foram registrados mais de 40 km em filas. Em São Paulo, as vias de acesso ao litoral não estavam diferentes nem para a ida para o litoral, quando no retorno, após o Réveillon.

E ai, você se questiona: pago tributo, pedágio, nem assim funciona? Não, não funciona, nem com a dupla “contribuição”. Ainda assim, o cidadão/contribuinte é exposto a estradas mal cuidadas, nada planejadas e ineficientes, que já nascem ultrapassadas na capacidade e consequentemente lotadas.

Então, parte-se para o último item dessa triste constatação: no Brasil falta infraestrutura e logística adequada, de forma tão indecente, que penso que nem ao menos se sabe o que é logística.

Veja o exemplo do Rodoanel em São Paulo, tão alardeado, esperado e festejado. Contudo, já nasceu ultrapassado, ao passo que não suporta mais o tráfego, é já se faz necessárias mais alternativas.

Essa péssima infraestrutura por sua vez atinge diretamente a nossa logística, tornando-a ineficiente e uma das mais caras do mundo. Perdemos para Chile, México e Índia, mas esse cerne da logística nem se entrará no mérito, pois é assunto bem denso.

Falta a logística básica cotidiana, àquela respeitosa aos cidadãos, que têm direito ao um trânsito controlado, organizado e seguro. Hoje, o que se vê são estradas de qualquer forma, atulhadas de carros, que além de não oferecerem segurança ainda dão muita dor de cabeça.

A situação é tão complexa que muita gente não viaja no fim de ano, nos feriados, para desviar-se da situação extremamente crítica. É o direito de ir e vir tolhidos pela desorganização pública, mesmo com a dupla “contribuição”.

 

*Silvia L. de Pinho é advogada do escritório de advocacia Augusto Grellert Advogados Associados.

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