Artigo

O círculo virtuoso do Fórmula SAE

*Por Ricardo Takahira

O que há de diferente na Competição Fórmula SAE BRASIL em relação a outras provas estudantis no País? E o que leva a cada ano, apesar das dificuldades, termos cada vez mais equipes inscritas, projetos inovadores e conquistas brasileiras no Exterior? A resposta é a paixão pela engenharia, a certeza de aprender na prática o que nem o melhor curso ou professor pode lhe passar: conquistas pessoais e coletivas aliadas à prática de teamwork, liderança e empreendorismo. Tudo isso é alcançado não durante uma corrida, mas em um processo de educação e disciplina para a vida profissional, reconhecida e mantida por quem entra, permanece e sai da competição, mas continua a colaborar como comissário, voluntário ou juiz de prova. São vários os motivos para esse círculo virtuoso, esse fascínio pela competição, despertado ainda na universidade, que perdura por toda a vida profissional do enge nheiro.

Vivemos o desafio da busca do veículo eficiente, seguro, sustentável, conectado e autônomo. É inegável o conteúdo tecnológico que o produto precisa possuir para ter sucesso no mercado mundial. Buscamos hoje no mercado soluções em combustíveis renováveis cada vez mais eficientes e menos impactantes ao meio ambiente, além de redução de peso com a utilização de alumínio, nanomateriais e novos compostos, como fibra de carbono em escala industrial. Buscamos também o uso crescente da eletrônica embarcada e ultimamente do powertrain híbrido elétrico, ainda distante no País, é verdade. Quiçá no futuro uso do hidrogênio para propulsão. Mas cada vez mais os projetos são globais, mantidos nos países sedes de desenvolvimento em outros continentes. Como se preparar para esta realidade, estar atualizado e pronto para o mercado de trabalho?

Há também o sonho de criança de ser o piloto, de alcançar essa posição de chefe de equipe da Fórmula 1, de ser parte daquela equipe de competição quais sejam o seu papel e a sua especialização. Esse sonho ainda persiste por gerações em quem gosta da mobilidade, do automobilismo, que alimenta o sonho perpetuado por ídolos antigos e novos nas categorias de competição da Fórmula 1. Tradição que passa de pai para filho. Percebam que agora temos três pilotos brasileiros na nova categoria da FIA: o Fórmula-E. E o primeiro campeão Nelsinho Piquet, um brasileiro, será citado na história do automobilismo mundial em todos os tempos.

A Fórmula SAE BRASIL, nos mesmos moldes e regras da SAE International, usa essa força jovem para disseminar as práticas e os princípios básicos da engenharia em um espírito de competição, que ao final de um ciclo, de uma passagem, transforma o jovem no engenheiro, preparando-o para a vida profissional de forma diferenciada e fazendo com que durante esse processo ele mesmo se descubra, aprenda com os seus erros, fortaleça-se com os acertos e conquistas e se apaixone de forma definitiva pelo processo criativo e realizador.

Quando essas conquistas ainda são acompanhadas pela vitória, vem aquela sensação de grande realização, pois cada parafuso ali apertado, provavelmente, tem o seu suor, seu DNA deixado na construção do fórmula da sua idealização, naquela curva do design, do desenho no CAD, no planejamento do cronograma, no gerenciamento de um orçamento sempre impossível de realizar em um prazo implacável e inatingível.

O ciclo anual do projeto sempre se repete com os mesmos ou novos integrantes e o sistema se sustenta com a passagem das experiências entre veteranos e calouros. Certo que não é para todos, mas aqueles que optam por se engajar já são diferenciados, potenciais futuros profissionais disputados pelo mercado, pelas empresas de ponta. E, então, quando bate a saudade, o engenheiro, às vezes envolto no seu cargo administrativo de supervisão ou gerência, volta por uns dias, mas agora do outro lado, na condição de voluntário ou juiz de prova, em conversas um a um ou em grupo, sob olhares e ouvidos atentos dos novatos para os conselhos, as críticas e os elogios daquilo que está fisicamente realizado, não só a construção do fórmula, mas do projeto, do design, dos custos, da organização, da apresentação de marketing, da tecnologia e inovação implementada, da performance, do conjunto. Essas são as disciplinas que valem ponto nesta “corrida”.

Da transição das provas estáticas ao grito do time na aprovação para as provas dinâmicas. Da aflição das provas dinâmicas, passagem da prova de frenagem, do ruído máximo do motor e sistema de exaustão, da manobrabilidade, da performance na aceleração, da resposta dinâmica do conjunto do autocross, da durabilidade e eficiência no enduro. Todo mundo corre atrás do resultado, e o fórmula parece superar cada prova e ganhar pontos em cada uma em câmera lenta, como o filme do tira-teima da linha de chegada, onde cada inovação contará ao final, onde o diferencial do detalhe ou o conjunto todo comprovado pela robustez de passagem em cada requisito irá pontuar ao final. Comovidos naquele time de 20 a 30 estudantes de engenharia, começam a sonhar com a conquista de representar o país nas competições internacionais e um dia atuar no mercado.


* Ricardo Takahira é engenheiro e membro do Comitê Técnico da 12ª Competição SAE BRASIL-Petrobras de Fórmula SAE.

Comentários