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Montadoras que terão fábrica no País criam associação rival à Anfavea


 
A Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) confirmou ontem alteração em seu estatuto. Com a mudança, a entidade que abrigava importadores de veículos passa a receber também fabricantes, tornando-se uma espécie de rival da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), até agora a única entidade de classe que representava as montadoras.

A razão social passa a ser Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), conforme o Estado antecipou na edição do dia 12. Três marcas que constroem fábricas no País - Chery, JAC Motors e Land Rover - já anunciaram que ficarão na nova entidade.

Audi e BMW, que também terão produção local, são filiadas à Abeiva mas ainda não informaram se migrarão para a Anfavea. As fabricantes de caminhões Foton, Schacman e Sinotruk devem decidir futuramente se vão se filiar a uma das entidades.

"Algumas empresas já começam a se preparar para produzir no País e naturalmente surgiu a ideia de mudar o estatuto para se tornar não só uma associação de importadores, mas também uma entidade para abrigar empresas que hoje importam e irão num futuro próximo fabricar veículos no País", diz Flavio Padovan, presidente da Abeiva e da Jaguar Land Rover.

Padovan afirma que não há "nenhuma intenção de confronto com a outra associação". Segundo ele, "é apenas uma opção que damos aos associados de continuar na mesma associação". Procurada, a Anfavea não se pronunciou sobre o assunto.

Joia

Embora a direção da Abeiva não tenha declarado oficialmente, um dos motivos para a mudança do estatuto, segundo várias fontes ouvidas no mercado, seria o descontentamento das futuras fabricantes com a elevada "joia" que a Anfavea cobra de novas associadas, na casa de R$ 2 milhões. A Abeiva cobra R$ 75 mil para a filiação e não informou se manterá esse valor para a Abeifa.

O valor pedido pela Anfavea é considerado exagero pelas novatas. Outro foco de descontentamento é o poder de decisão na Anfavea, concentrado nas cinco maiores fabricantes: Volkswagen, Fiat, General Motors, Ford e Mercedes-Benz.

Executivos desse grupo se revezam no comando da entidade há mais de 30 anos, o que tem gerado descontentamento até entre algumas das atuais sócias.

"É melhor ser cabeça de sardinha do que rabo de tubarão", diz o presidente da JAC Motors, Sérgio Habib, ao confirmar que a JAC, com fábrica em construção na Bahia, ficará na Abeifa.

Segundo membros da Anfavea, a luva se justifica pelo patrimônio construído nos seus mais de 50 anos, com imóveis em São Paulo e Brasília. A entidade tem acesso livre aos gabinetes em Brasília e, normalmente, tem pedidos atendidos, como o de incentivos fiscais.

Além da "luva", a Anfavea cobra mensalmente um porcentual sobre o faturamento do associado, prática comum em diversas entidades de classe. A Abeiva não opera com mensalidade fixa, mas rateia os gastos mensais entre os sócios.

Ficar com as associadas que normalmente iriam para a Anfavea (como fizeram no passado, por exemplo, Renault e Mitsubishi) será uma forma de a Abeiva manter representatividade. Sem Chery, JAC e Land Rover, passaria a representar só marcas de nicho, como Ferrari e Porsche. A exceção seria a Kia, maior importadora independente que ainda não decidiu pela produção local.

Fonte : O Estado de S. Paulo/Beatriz Bulla e Cleide Silva/Site da Secco

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