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O futuro da mobilidade e o compartilhamento.

O futuro da mobilidade e o compartilhamento.

Por José Carlos Secco. 

Não é à toa que temos visto as principais montadoras do mundo firmarem parcerias e até adquirirem empresas de tecnologia. Não é sem motivo que elas têm sido as “estrelas” em eventos como o CES, promovido anualmente em Las Vegas e que reúne o que existe de mais avançado em termos de “Consumer Technology”. 

O futuro da mobilidade, do automóvel e até mesmo da nossa relação com ele passa pela exploração de novas tecnologias. As montadoras precisarão mais do que desenvolver, fabricar e vender um veículo, focar no transporte como prestação de serviço. 

Essas parcerias estão permitindo a esses fabricantes oferecer serviços de transporte, avançar rumo à sua transformação em provedores de mobilidade. Não é mais novidade ver as pessoas utilizando aplicativos via smartphones para chamar um carro com motorista para leva-las ao seu destino. 

Recentemente, a Toyota e a Volkswagen anunciaram parcerias com aplicativos desse tipo. A montadora japonesa fez um investimento no Uber, maior dos app de caronas pagas, presente em mais de 70 países. A Volkswagen investiu US$ 300 milhões no Gett, um app popular na Europa, e pretende se tornar a maior provedora de mobilidade do mundo até 2025. 

Já a General Motors investiu US$ 500 milhões no Lyft, principal concorrente do Uber nos Estados Unidos, com o intuito de participar do desenvolvimento de táxis­robô, que se conduzem por conta própria, e também para entrar no ramo das caronas pagas. E a Ford planeja desenvolver o próprio aplicativo de corridas pagas, com um veículo especialmente projetado para ser utilizado com o app. 

Todas essas montadoras estão atentas ao mercado de caronas pagas e investem ainda em outras maneiras de faturar com a mobilidade. Isto porque as pessoas que sempre quiseram ter o seu próprio carro, talvez comecem a mudar de ideia e prefiram pagar para dirigir quando não houver outra opção ou mesmo façam uso de um “motorista”, robô ou não, para se locomover. No Brasil isto ainda parece distante, mas por ser um movimento cultural, deve chegar mais rápido do que se imagina. 

Os jovens moradores das grandes cidades já não veem vantagem em ter um bem que passa maior parte do tempo sem uso ou parado no próprio trânsito. Espaços como o ZipCar, pertence à locadora de veículos Avis, cujos sócios podem usar um app para solicitar a utilização de um carro por um curto período de tempo, estão ganhando adeptos. Mais montadoras estão copiando os aplicativos Car2Go, da Daimler, e o Drive Now, da BMW. A Ford, por exemplo, tem serviços de compartilhamento de carros em fase de testes nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha, na Alemanha e na Índia. 

Em São Paulo, o compartilhamento de veículos é cada vez menos incomum. Várias empresas já atuam regulamentadas ou requereram licença para prestar esses serviços. São desde opções como o Uber e a espanhola Cabify, com o modelo de motorista particular, até caronas e aluguel de carros entre pessoas, como a BlaBlaCar, Pegcar, Zazcar. 

A explicação é simples para este crescimento: população de mais de 10 milhões de habitantes, transporte público pouco desenvolvido e serviços regulados. Para utilizar é bem mais rápido e fácil que se imagina. O dono do veículo se cadastra no site de uma dessas empresas, coloca imagens e características do automóvel, e o preço do aluguel por hora, dia e semana. O cliente informa local, data e horário da retirada e devolução. O pagamento é feito por transferência bancária intermediada pela empresa, que cobra 10% do valor da transação. 

Em um futuro, nem tão distante assim, podemos nos transformar em usuários de aplicativos que combinam o compartilhamento não só de veículos, mas táxis, ônibus, trens e bicicletas, entre outros, e pagar uma mensalidade para ter acesso às opções de transporte mais rápidas e baratas. 

 

Com o uso mais eficiente do transporte público e a disseminação dos aplicativos de compartilhamento de veículos e de caronas pagas, indivíduos que normalmente comprariam um carro, talvez já não o façam. Daí as montadoras estão atentas a buscarem alternativas para ganhar com o transporte e a mobilidade.

José Carlos Secco é jornalista e diretor da Secco Assessoria de Comunicação.

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